domingo, 2 de maio de 2010

Bom o que mas pode aconteser?

Chegou a mim por e-mail a informação de que certo pastor, ao assumir a presidência de um grande ministério da Assembleia de Deus do Estado do Rio de Janeiro — não me pergunte onde! —, afirmou que não consagrará mais presbíteros como auxiliares do ministério principal da igreja. Segundo ele, esse título só pode ser atribuído aos supervisores que estão acima dos pastores, e não a obreiros locais.

É claro que títulos eclesiásticos variam de acordo com as denominações, pois não se deve confundir título com ministério. Não é o título que faz a pessoa. É a pessoa que faz o título. Este é recebido neste mundo; o ministério e o dom vêm do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação (Tg 1.17).

Entretanto, diante do mencionado rompimento de paradigmas, por parte do aludido pastor assembleiano (assembleiano?), pergunto:

Quer dizer, então, que o que temos aprendido, ao longo dos anos, com homens de Deus, como Samuel Nyström, Nels Nelson, João de Oliveira, Eurico Bergstén, João Pereira de Andrade e Silva, Estevam Ângelo de Souza, Alcebíades Vasconcelos, José Pimentel de Carvalho, Antonio Gilberto, Cícero Canuto de Lima, Anselmo Silvestre, N. Lawrence Olson, Orlando Boyer, José Wellington Bezerra da Costa, Valdir Nunes Bícego e tantos outros pastores e mestres, está tudo errado?

Alto lá! — como costuma dizer Raimundo João de Santana, o admirável pastor-presidente da Assembleia de Deus do Rio Grande do Norte. Nas igrejas neotestamentárias, há pelo menos quatro escalões de trabalho: (1) o ministério principal, formado por apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e ensinadores; (2) o presbitério: ministério auxiliar local; (3) o diaconato: trabalho auxiliar material, que envolve os diáconos reconhecidos (consagrados) pela igreja e os que fazem o trabalho como cooperadores; e (4) os outros trabalhos auxiliares: professores, líderes de louvor, círculo de oração, comissões, etc.

De acordo com 1 Coríntios 12.28, há uma hierarquização dos dons e ministérios do Espírito, a qual é feita por Deus, que realiza todas as coisas com ordem (cf. 1 Co 14.26,40; 15.23; 1 Ts 4.16,17; 5.23; Cl 2.5). Essa hierarquização existe, não para que o portador de certo dom ou ministério se considere superior aos outros, e sim para que haja ordem na obra do Senhor.

Primeiro, Deus pôs na igreja apóstolos. Isso é uma alusão a um ministério, e não a título. Hoje, muitos se autoproclamam apóstolos. Mas os verdadeiros apóstolos são homens de Deus, enviados por Ele, com grande autoridade, e não com autoritarismo. Formam a liderança maior da igreja, independentemente dos títulos usados pelas igrejas locais (pastores-presidentes, bispos, pastores, presbíteros, etc.). Em segundo lugar, o Senhor pôs na igreja profetas, isto é, pregadores (pregadores, mesmo!) da Palavra de Deus, portadores de mensagens proféticas. Em terceiro, doutores (At 13.1), ensinadores chamados por Deus que atuam juntamente com os apóstolos e profetas.

Há casos, como o de Paulo, em que três ou dois dos ministérios mencionados (apóstolo, profeta e doutor) se intercambiam (1 Tm 2.7). Os ministérios de pastor e evangelista (Ef 4.11) certamente em alguns casos se combinam; e ambos fazem parte dos três primeiros itens mencionados na lista de 1 Coríntios 12.28, posto que são títulos relacionados com a liderança maior da igreja. Depois desses três ministérios, mencionam-se milagres, dons de curar, socorros, governos (líderes de grupos menores diversos), variedades de línguas, etc. Observe que o ministério da Palavra tem mais prioridade para Deus do que os dons ligados a milagres e curas!

Na hierarquização feita por Deus, os presbíteros estariam depois do ministério principal (apóstolos, pregadores [profetas e evangelistas] e mestres). Mas é bom lembrar que o termo “presbítero” é empregado no Novo Testamento com dois sentidos: o de supervisor geral (2 Jo v.1; 3 Jo v.1; 1 Pe 5.1, gr. sumpresbuteros); e o de obreiro auxiliar, local (1 Tm 3.2; Tt 1.5,7; At 14.23). E é aqui que muitos fazem confusão, como o pastor-presidente mencionado no início.

O sentido original de “presbítero” é “idoso”, “ancião” (At 2.17; Hb 11.2; 1 Tm 5.2). Mas o termo presbuteroi, associado a episkopoi, diz respeito ao obreiro maduro, preparado, não necessariamente idoso. Os termos originais citados são intercambiáveis e indicam a natureza do trabalho (At 20.17,28) e a maturidade espiritual para se exercer a obra do presbitério. Não confunda, pois, “anciãos” (gr. presbuteros) com “anciãos” (gr. gerousia). Este denota “conselho de anciãos, homens idosos”, e aquele se refere a obreiros auxiliares maduros, preparados, independentemente de suas idades.

Para a função de presbítero, como obreiro auxiliar, há três títulos sinônimos, no Novo Testamento, os quais não representam diferença, quer no cargo, quer na responsabilidade: “presbítero” (Tt 1.5), “ancião” (At 11.30; 15.2-6; 20.17) e “bispo” (At 20.28). Os presbíteros, bispos ou anciãos formam um corpo de auxiliares imediatos do líder maior da igreja, os quais cooperam com o ministério principal ativamente no apascentamento do rebanho (1 Tm 4.14; At 20.28; 1 Pe 5.2; Jo 21.15-17). Em Atos, eles são mencionados junto com os apóstolos (At 15.2-6,22), o que denota a subordinação deles ao ministério principal da igreja.

Apenas a título de ilustração, Pedro era um dos apóstolos; fazia parte do ministério principal da igreja e estava acima, hierarquicamente, dos anciãos (presbíteros) e dos irmãos, como lemos em Atos 15.23. Mas o mesmo apóstolo, em 1 Pedro 5.1,2, assevera: “Rogo, pois, aos presbíteros, que há entre vós, eu, presbítero como eles [...] Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós”. Vemos, aqui, claramente as duas modalidades de presbítero: o supervisor (gr. sumpresbuteros, a exemplo de Pedro) e os auxiliares do ministério principal (gr. presbuteros).

Portanto, tomemos cuidado com os obreiros que querem “reinventar a roda”, pois são eles os mesmos que propagam heresias como a Teologia da Prosperidade (também conhecida como Teologia das $emente$). Afirmar que a Assembleia de Deus não pode mais consagrar presbíteros como obreiros auxiliares dos pastores, alegando ser isso um erro que os patriarcas cometeram, é falta de respeito e de conhecimento bíblico. “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Ts 2.15).

Em Cristo,
FONTE
Ciro Sanches Zibordi
pos-Evaldo Florindo

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